Sabe-se que em Karate-Do, o equilíbrio do corpo é fundamental para manter a estabilidade dos movimentos em cada postura. No entanto, não devemos deixar de lado um outro equilíbrio , as nossas emoções. Compreenda que o equilíbrio do corpo e das emoções são uma só unidade. Porque o estado emocional em que você se encontra reflete exatamente em sua atitude. Outrora se dizia que a espada do samurai era a sua alma. Porque o manejo da mesma, expresso por movimentos precisos de destreza e habilidade técnicas, refletia a força e a serenidade de seu equilíbrio emocional. Afirmava-se que a sua espada personificava o seu espírito. Porque tanto o seu emocional quanto a lâmina de sua espada possuíam a mesma têmpera do aço - processo pelo qual a espada é forjada - para construir em sua auto-estima ânimo inabalável. Tal atitude dava ao samurai domínio próprio, qualidade indispensável também ao karateka. Como diz um provérbio chinês, " aquele que sobrepuja os outros é forte, porém, quem sobrepuja a si mesmo é poderoso". Segundo mestre Reishin Kawai, pessoas que facilmente se insurgem contra ofensivas são aquelas que ainda não conseguiram atingir o equilíbrio emocional e espiritual. Este equilíbrio é observável entre os praticantes de arte marcial ao manejarem uma espada. O manejo sereno e confiante é conseguido por aqueles que também são serenos e equilibrados internamente. Ao passo que o empunhar nervoso e incostante denota as pessoas desprovidas exatamente daquele equilíbrio. O estudo de nossas emoções aqui se faz necessário em dois aspéctos: no combate e no cotidiano. Explico-me: quando em combate, o praticante precisa manter a mente serena, nada esperando e a tudo reagindo. E isso se adquiri através de um estado de alerta constante (zanshin). E no cotidiano sabe-se que paus e pedras podem nos machucar, porém, as palavras ainda que ásperas não podem nos ferir. Como regra geral, sabe-se que pessoas quando ofendidas por insultos, sempre tendem a responder as ofensas que lhe são atribuídas. O segredo para desfazer o conflito está em não dar ouvidos àquilo que nos dizem , ainda que seja humilhante. A menos que haja um fundo de verdade quando violamos a ética em relação ao próximo. Como Oswaldo Duncan sensei ensinava," em karate não venha culpar os outros ou odiá-los, tenha somente medo de sua falta de sinceridade". Porque fora isso não devemos acreditar no que disserem a nosso respeito. Assim dizia o professor Júlio Schuwantes, em seu livro colunas do caráter, que a característica de um grande coração é a capacidade de aceitar críticas adversas sem exasperar-se. É bem mais fácil melindrar-se com supostas ofensas do que reconhecer razão num adversário. Um orgulho sutil costuma cegar-nos quanto aos próprios erros e exagerá-los nos outros. Como karateka é necessário ter sempre em mente que tais pessoas realmente são medíocres, porém não precisamos dizer isto a elas. Porque o espremer do leite produz manteiga, e o espremer do nariz produz sangue, assim o espremer da ira produz contendas. Para o karateka é imprescindível manter a calma diante da tempestade, porque o domínio sobre si mesmo, em forma física e psicológica o ajudará a tomar a decisão certa. Assim evitaremos a coragem impetuosa, a qual deve ser evitada para não cometermos o erro de sempre lutar quando somos apenas ameaçados. A coragem impetuosa também deve ser assimilada principalmente quando queremos expor uma filosofia aos que não a conhecem ou não querem compreendê-la. Porque àqueles que sabem nada precisa ser dito e àqueles que não sabem raramente estão dispostos a ouvir. Portanto, o equilíbrio emocional do estudante de Karate - quando amadurecido - deve ser consistente como o aço da espada. E segundo o shihan Mitsugi Saotome, a espada, um dos três símbolos espirituais da nação japonesa, espelha em seu metal a sabedoria e a honestidade. Nobre, aguçada e resistente, embora flexível e pura: tais as qualidades a que o guerreiro aspirava.
Por Rogério Santos Sensei
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